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sexta-feira, novembro 25, 2005

A síndrome da exploração mecanográfica

REFLEXÂO: Sentirmo-nos desorientados neste mundo cada vez mais globalizado, onde se investe, produz e se compram serviços com o valor do “dinheiro electrónico”, aquele que só circula nos discos rígidos, é absolutamente natural! Natural também é que passemos a ser meros “operários electrónicos”, números mecanográficos, registados pelo “clique” do relógio de ponto. Mais: Alarmante é a mudança sócio-cultural resultante de uma politica pós-industrialização sem qualquer respeito ou atenção pela dignidade de quem se dispõe a trabalhar e, actualmente, pelo mero indivíduo.

Tornou-se uma obsessão ou, melhor (!), uma síndrome, olhar o operário com desdém e, consequentemente, os serviços que este presta a uma empresa são tidos como mera obrigação...

QUANDO...

... se cumpre apenas o horário estipulado, o funcionário é acusado de falta de interesse e entrega.

... há essa entrega e se oferece horas à “casa”, o operário mecanográfico (desengane-se quem pensa que hoje em dia o empregado de escritório é em algo diferente do fabril!), só cumpre o seu dever.

... o trabalhador recebe o seu salário, tão desproporcionado quando relacionado com o seu valor curricular e profissional, a tendência é sentir-se constrangido.

REALIDADE: Aos olhos da sociedade actual, é quase um comportamento desviante pedirmos dinheiro à entidade patronal, afigurando-se esta, cada vez mais, com a imagem paternal (daquele pai que dava tareias com o cinto no Século passado e não do que conta histórias ao deitar). Sim, afinal, é o nosso patrão que nos dá a mesada e, meus caros, irrompendo a sua voz, incessantemente, num dos raros momentos de ócio que nos são permitidos usufruir; qualquer coisa como: “Não venhas tarde”- diz-nos sem carinho.

CONVICÇÃO: Se pouca for a cautela, tornar-nos-emos, inevitavelmente, nos tais operários mecanográficos, criaturas submissas à autoridade do patrão, vermes sem amor próprio e odiosamente bajuladores, prontos para destruir a vida do próximo que atente contra a situação “confortável” na empresa. Ontem os patrões tomaram o poder, hoje a efectividade não é um posto em emprego algum, amanhã o operário será alvo de “apartheid-laboral”, isto é, preconceito social para com títulos como “escriturário”, “secretário”, “jornalista”, “pivot de televisão”, “licenciado”, os mesmos que se verão privados de entrar em sítios reservados aos patrões que, em Portugal, são, na sua maior parte, indivíduos sem qualquer formação profissional ou mesmo social, muitas vezes pouco inteligentes e, sem excepção, desumanos.

CONCLUINDO: Isto não é uma visão negra do futuro. Isso era-o o “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro” de George Orwell. Mas acabou por acontecer! Quem é que ainda não acredita em profecias?!

3 Comments:

  • At 11:43 da manhã, Blogger Ana Elias said…

    Texto Brilhante! dos melhores que já encontrei na vasta blogosfera..., sendo que eu própria uma blogbuster, este Zorze impressionou-me pelo seu talento literário, capacidade análise, e inteligência astuta, que ultrapassa os níveis a que estamos habituados.

    Um bem-haja Zorze... Continua!

     
  • At 11:44 da manhã, Blogger Ana Elias said…

    Texto Brilhante! dos melhores que já encontrei na vasta blogosfera..., sendo que eu própria uma blogbuster, este Zorze impressionou-me pelo seu talento literário, capacidade análise, e inteligência astuta, que ultrapassa os níveis a que estamos habituados.

    Um bem-haja Zorze... Continua!

     
  • At 2:19 da tarde, Blogger El Mariachi said…

    Arguto, engenhoso, hábil, perspicaz, sagaz, muito elucidativo. Susceptível de agitar algumas consciências, porquanto espera-se (sim, com muita daquela que é a última a morrer), que a carneirada possa fazer algo mais que balir apenas!

     

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